quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cinema


Trama e ritmo fracos comprometem "Divergente"

Adaptação de livro para jovens adultos ambientado em futuro pós-apocalíptico distópico com protagonista feminina deixa de ser um caso isolado de "Jogos Vorazes" e se torna uma tendência com "Divergente". Sai de cena a extremamente talentosa Jennifer Lawrece e entra a talentosa o suficiente Shailene Woodley. O que se mantém igual é o uso desse artifício como uma metáfora, tão simples quanto superficial, sobre a sociedade contemporânea. Mas a coisa funciona um bocado menos para essa tentativa.

Em uma Chicago cercada por um enorme muro - para se proteger de algo que não é revelado neste primeiro filme -, em um futuro indeterminado, a sociedade busca se manter organizada, mesmo com todo o medo. A solução foi dividir as pessoas em grupos de castas. Nesse caso cinco bem específicas, de acordo com a personalidade: Abnegação, Amizade, Audácia, Sinceridade e Erudição. Como essa divisão se relaciona com estruturação social pós-conflito, é um mistério, porém.


Aos 16 anos é feito um teste e os jovens podem escolher para onde irão, mesmo que eles tenham nascido em uma família de outra casta. O caso de Beatrice "Tris" Prior, papel de Shailene, é mais complicado porque ela é uma Divergente, alguém com aptidão para duas ou mais castas. E isso é um problema para a organização social, que é muito rígida. Ela nasceu na Abnegação - caridosos, desapegados materialmente e indicados como os líderes políticos -, mas escolhe ir para a Audácia - viciados em adrenalina e exercícios físicos que são responsáveis pela defesa e patrulhamento.

O filme se desenvolve com o treinamento de Tris, que é hostilizada pelos instrutores e por alguns colegas, com o agravante de que, se falhar, se tornará um pária, um sem-facção que não tem lugar na sociedade, vivendo da caridade dos abnegados. Ela sofre para dar conta das tarefas físicas, ao mesmo tempo em que precisa esconder que é uma divergente, já que há um plano conspiratório para mudar a estrutura de poder acontecendo por trás dos panos - e são os divergentes a maior ameaça, tanto para as certezas sociais quanto para a execução desse plano.


A metáfora aqui é óbvia. Os divergentes representam a fagulha de mudança social que as estruturas antigas não conseguem encaixar. E é daí que vem o apelo do livro, ao menos. Tris e os demais divergentes passaram a vida ouvindo o que devem ser ou não na vida. Mas ninguém é apenas uma coisa e as pessoas querem ser corajosas, amistosas, francas, inteligentes e desapegadas.

Como mensagem para os jovens, ótimo. Como filme, nem tanto. O ritmo que se arrasta ao longo das mais de duas horas seria até tolerável, não fossem os problemas sérios das motivações dos personagens. Temos um divergente que luta para se esconder ao mesmo tempo que tatua os símbolos das facções nas costas - indicando que não simpatiza apenas com uma - ou uma personagem que se nega a falar com Tris até que seja conveniente para o roteiro. Tudo isso coroado com a vilã que comete o erro batido de não matar seus opositores na hora - há uma justificativa, mas não é o suficiente, vai -, fazendo com que eles tenham um motivo mais forte ainda para impedir seus planos. Isso para ficar só nos mais gritantes.


Para piorar, há o visual. As roupas, cenários e objetos de cena - especialmente as armas - parecem futuristas se você estiver vendo uma ficção científica dos anos 70 ou 80. Isso é ruim por impedir que mergulhemos profundamente na história e pudéssemos abraçar a lição que há nisso tudo.
  • TÍTULO ORIGINAL: DIVERGENT
  • LANÇAMENTO: 
  • DURAÇÃO: 139 MINUTOS
  • GÊNERO: FICÇÃO CIENTÍFICA
  • DIRETOR: NEIL BURGER
  • AVALIAÇÃO:
    2

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